Febre entre os jovens, slackline vira ferramenta pedagógica em escola para crianças com deficiência
Fita elástica usada por montanhistas para treinar travessias ganhou popularidade nas ruas
Na escola, atividade une desafio e diversão Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS
Taís Seibt
Uma fita elástica presa entre duas árvores é o suporte para manobras e saltos. Este é o slackline, técnica usada por montanhistas desde os anos 80 para treinar travessias e se tornou popular como esporte de rua na última década. Nos parques da Capital, a atividade virou febre no verão passado. Na Escola Elyseu Paglioli, no entanto, a "corda bamba" é ferramenta pedagógica para a reabilitação de crianças com deficiência.
— É gigante a dificuldade de ficar parado em cima da fita — resume o consultor de vendas Diego Ferreira, 29 anos.
Quem dirá chegar ao nível de ajoelhar, deitar e saltar tendo a corda como chão. Perseverança e superação são palavras que surgem na conversa conforme Diego descreve a evolução de seu desempenho, hoje transformado em diversão nos finais de semana, quando a turma faz fila para subir na fita e atrai olhares ao seu redor no parque Marinha do Brasil.
— O legal desse esporte é o contato com a natureza e com as pessoas, ao mesmo tempo que a gente ganha condicionamento físico e concentração — descreve.
O professor de educação física Mateus de Oliveira comprou um kit em parceria com alguns amigos para praticar slackline no Parque da Redenção. Especializado em psicomotricidade relacional, ele resolveu transformar o lazer em matéria de aula. Quando a cinta é estendida na escola, são princípios como cooperação e socialização que falam mais alto: um segura o outro pela mão para ajudar no equilíbrio durante a travessia e cada um que chega no fim da linha recebe os aplausos dos colegas como reconhecimento.
— A ideia é fazer eles experimentarem o máximo de atividades corporais possível e estimular o contato físico — diz o professor.
Reconhecimento social
Um dos mais empolgados com a atividade é Lucas Rodrigues, 13 anos, portador de Síndrome de Down.
— Ele falava o tempo todo em casa desta corda, mas eu não sabia o que era — conta Solange, mãe de Lucas, que até experimentou o exercício, conduzida pelo filho, enquanto acompanhava a reportagem.
A diretora da escola, Viviane Loss, não teve dúvidas quando Mateus propôs introduzir o slackline nas aulas de educação física.
— Tem benefícios instrumentais, como equilíbrio e consciência corporal, mas o principal é o benefício estrutural, pelo fato de eles estarem participando de uma atividade reconhecida socialmente — destaca Viviane.
O professor Mateus garante que os efeitos do slackline extrapolam a educação física:
— O maior ganho é o reforço da autoestima, fazer eles perceberem que podem superar desafios e se sentirem capazes de se autoafirmar.
Saiba mais
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O slackline surgiu nos anos 80, quando escaladores do Vale de Yosemite, nos Estados Unidos, esticavam suas fitas de escalada e ficavam tentando se equilibrar. A partir daí, o esporte foi atraindo novos adeptos.
No Brasil, o esportista Hugo Langel montou o primeiro highline — modalidade praticada a mais de 5 metros do chão — no Rio de Janeiro, em 2007. Ele atravessou a Pedra da Gávea, a 840 metros de altura e 32 metros de comprimento.
:: O esporte começou a se popularizar na orla do Rio de Janeiro e depois se espalhou para outras cidades. Em Porto Alegre, a prática tem conquistado forte adesão nos últimos seis meses, especialmente entre os jovens.
:: O grande número de praticantes na Capital mobilizou o surgimento de empresas especializadas exclusivamente à comercialização e até ao desenvolvimento de equipamentos para a prática, além de atrair um campeonato que vai trazer atletas de toda parte ao parque Marinha do Brasil, dia 19 de maio.
:: Em campeonatos, os competidores são avaliados em quesitos como postura, equilíbrio, dificuldade das manobras e altura dos saltos.
:: Em parques, os praticantes formam filas para subir na fita. Quando um cai, é a vez do próximo. Em geral, os "donos da fita" deixam livre a participação de quem está na volta.
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